DESMISTIFICANDO A TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM EQUINOS | REVISTA RAÇA MARCHADOR

DESMISTIFICANDO A TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM EQUINOS

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DESMISTIFICANDO A TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM EQUINOS

DESMISTIFICANDO A TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES EM EQUINOS

A transferência de embrião na espécie equina é uma biotecnica de suma importância para a indústria do cavalo. Uma vez que a versatilidade desta espécie é o principal fator responsável pelo crescimento mundial da equideocultura, esta biotecnologia possibilita o maior desenvolvimento do setor através do ganho na eficiência reprodutiva e no incremento do melhoramento genético, favorecendo o aprimoramento da raça e seus cruzamentos.

Com o avanço das técnicas utilizadas no processo, e graças a iniciativas como a criação de centrais de reprodução equina e centrais de venda de coberturas, tornou-se possível a todo criador o acesso ao programa de transferência de embrião em seu projeto de seleção. Sendo ele, através de uma central especializada ou dentro de sua propriedade. A  complexidade da transferência de embriões é relativamente baixa quando comparada com técnicas mais avançadas. A dificuldade do programa está na organização e coordenação de componentes separados que afetam o sucesso da estação de monta, como por exemplo: o manejo da égua doadora e qualidade da égua receptora, sincronização e habilidade/técnica na transferência. Assim, torna-se importante desmistificarmos estes processos. 

SELEÇÃO E MANEJO DA ÉGUA DOADORA E RECEPTORA - Para seleção da égua doadora deve ser considerado o seu histórico reprodutivo, a fertilidade e genitores, as diretrizes do registro da raça, o valor potencial do potro resultante e o número de gestações desejadas. 

O manejo consiste em monitorar o comportamento reprodutivo com o emprego da palpação trans retal e ultrassonografia para monitorar a atividade folicular e ovulação, e o uso de hormônios exógenos para sincronizar o estro e ovulação. 

Quando em cio a égua doadora é examinada frequentemente para monitorar o crescimento folicular permitindo assim se entender o melhor momento para inseminação com sêmen a fresco, refrigerado ou congelado. 

Quanto as receptoras a seleção e manejo dessas éguas pode ser o fator mais importante que afeta o sucesso do programa, já que esta irá reconhecer o embrião e terá que fornecer as condições necessárias ao seu desenvolvimento. 

Os fatores para seleção incluem: ótimo peso (400 a 550 kg), idade de 3 a 10 anos, boa índole e bom desenvolvimento mamário, além de ciclos estrais normais e livres de anormalidades uterinas e ovarianas. 

As receptoras também devem ser examinadas frequentemente quando em cio, para melhor monitoramento do crescimento folicular e ovulação. É preferível que pelo menos duas receptoras estejam disponíveis para cada doadora, não se esquecendo de realizar a reposição das mesmas a medida que forem utilizadas ao longo da estação de monta. Isso irá permitir que no momento da inovulação, se escolha a que apresenta as melhores condições reprodutivas para receber o embrião.

SINCRONIZAÇÃO DO ESTRO E INDUÇÃO DA OVULAÇÃO - Várias combinações de esteroides reprodutivos e hormônios são utilizados no controle do desenvolvimento folicular e tempo de ovulação. Atualmente a sincronização entre doadora e receptora é uma técnica realizada de maneira relativamente simples em éguas cíclicas. Na maior parte dos protocolos de sincronização empregados, monitora-se o crescimento folicular por ultrassonografia e quando um folículo de 35 mm for detectado utiliza-se um agente indutor (como por exemplo hCG e/ou GnRH) para induzir ovulação nas éguas receptoras dentro de 48 h depois que a doadora for inseminada. 

COLHEITA DE EMBRIÕES – A colheita de embrião é executada através da lavagem uterina trans cervical, utilizando uma solução de lavado como por exemplo o soro Ringer com lactato. O útero é infundido com 1 ou 2 litros em cada lavado, realizando-se este procedimento em média 3 vezes. Então, 3 a 6 litros são usados durante todo o processo de recuperação, o qual dependerá do tamanho do útero da égua doadora. A sonda ou cateter é acoplada ao circuito e, tem seu fluxo de recuperação interrompido com utilização de pinça e filtro milipore. O volume recuperado representa normalmente de 95% a 98% do volume infundido. 

TÉCNICAS DE TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO - Nos equinos pode ser realizada pela técnica cirúrgica, por incisão ao flanco, ou pela técnica não cirúrgica por via cervical. Com o advento de novos estudos, a metodologia atualmente utilizada é a transferência não cirúrgica coberta, associada a avaliação e seleção da égua receptora. Esta é uma técnica muito menos invasiva, rápida e de alto percentual de prenhez, na qual consiste em depositar o embrião no corpo do útero com o uso de uma pipeta de inseminação ou um inovulador que atravessa a cérvix. Apesar da complexidade da técnica ser relativamente baixa, vale lembrar da importância de um médico veterinário capacitado à frente do processo, para que o procedimento possa ser executado da forma correta e assim ser evitado grandes prejuízos ao projeto e a perda de ovulações de éguas valiosas e de sêmen dos garanhões muitas das vezes vindo de longe. 

Em decorrência das incessantes pesquisas, bem como crescentes avanços em biotecnologias aplicadas a reprodução equina, a transferência de embriões tem se destacado nas últimas décadas pelo seu excelente custo-benefício. Demonstrando grande ganho comercial e se tornando cada vez mais atraente para o criador no investimento em animais de genética superior. 

Raphael R. Gouvêa

Médico Veterinário, Especialista em Reprodução Equina  

 
 

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Raça Marchador Edição 5

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