O congelamento de sêmen equino é uma das biotecnologias da reprodução que tem mais se difundido entre os criadores de equinos nos últimos anos. Seus benefícios incluem a reserva de material genético, o encurtamento de distâncias geográficas (permitindo o transporte até regiões aonde a chegada do sêmen refrigerado é inviável), a diminuição da transmissão de doenças, além de proporcionar um maior aproveitamento dos garanhões ao longo do ano (uma vez que os mesmos podem ser coletados, e o sêmen congelado, fora da estação de monta). A evolução das técnicas de congelamento e inseminação, além da melhoria da capacitação técnica dos veterinários, resultaram em melhores taxas de fertilidade e consequentemente uma maior utilização do sêmen congelado na espécie equina, inclusive na raça Mangalarga Marchador.
Dentre os principais fatores responsáveis pela melhoria da técnica de congelação podemos citar o advento de novos diluentes para centrifugação, novos diluentes para criopreservação, melhoria e difusão das técnicas de seleção espermática (como filtragem em gradientes de densidade), melhorias no processo de centrifugação do sêmen, assim como a evolução dos equipamentos de congelamento. Aliada à evolução na técnica de congelação também ocorreu a melhor capacitação dos médicos veterinários responsáveis pelos processos de congelação e de inseminação artificial. Assim como melhorias nos processo de inseminação, com o advento de melhores aparelhos de ultrassonografia (como exemplo a utilização da tecnologia Doppler para predição da ovulação) e melhores técnicas de indução de ovulação (novos medicamentos indutores disponíveis no mercado, novas metodologias de inseminação em tempo fixo).
Em contrapartida, alguns dos empecilhos da utilização do sêmen congelado se devem à necessidade de mão de obra qualificada, manejo intenso dos animais, e uma menor taxa de fertilidade quando comparada às inseminações com sêmen fresco e refrigerado. Além disso deve se prestar bastante atenção ao armazenamento e transporte das amostras. O sêmen congelado é armazenado em botijões especiais, contendo nitrogênio líquido, e o nível de nitrogênio deve ser constantemente monitorado e nunca deve baixar de 15 cm de altura. Essa é a quantidade mínima de nitrogênio capaz de manter a temperatura adequada, evitando oscilações de temperatura que são prejudiciais ao sêmen. A manipulação das palhetas contendo sêmen deve ser criteriosa, sendo que as mesmas só devem ser retiradas do botijão nos casos de transferência para outros botijões, ou para descongelamento do sêmen. Dessa forma, as canecas dos botijões, quando contiverem sêmen congelado, não devem ser retiradas de dentro do botijão. Portanto o transporte dos botijões de nitrogênio contendo sêmen congelado deve ser muito cuidadoso, e os botijões devem ser devidamente acondicionados, para não sofrerem pancadas e para não tombarem. Além disso, o manuseio das amostras para troca de botijões deve ser feito por profissional capacitado. Vale ressaltar que os botijões contendo nitrogênio não podem ser transportados em aviões, para estes casos deve-se usar botijões especiais, chamados secos ("Dry Shippers”) uma vez que não possuem nitrogênio em forma líquida dentro deles.
O processo de descongelamento do sêmen deve ser criterioso, respeitando o tempo e temperatura indicados pelo veterinário responsável pelo congelamento do sêmen. A dose inseminante preconizada pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal para a espécie equina é de 1 Bilhão de espermatozóides viáveis. A quantidade de palhetas por dose vai depender da quantidade de espermatozóides viáveis por palheta, e deve ser calculada para atingir a dose preconizada mencionada acima. As palhetas contendo o sêmen devem conter o nome do animal, a raça, quando disponível o número de registro do animal na respectiva associação de criadores , além da data e partida do congelamento. Essa identificação é essencial, e deve ser bem feita. A manipulação do sêmen após o descongelamento deve ser breve, e a inseminação feita o mais rápido possível, na ponta do corno uterino ipsilateral à ovulação. Ao longo dos anos melhores resultados foram relatados realizando a inseminação após a ovulação, mas quando há disponibilidade de palhetas a realização de inseminações antes e depois da ovulação confere bons resultados. Como a inseminação deve ser feita logo após a ovulação o acompanhamento folicular durante o cio da égua deve ser muito bem feito, sendo ideal realizar o exame das éguas de 6 em 6 horas a partir de 24 horas após a indução da ovulação, ou assim que a iminência da ovulação seja detectada. Esse intervalo entre exames de 6 horas foi determinado com base no tempo de viabilidade do oócito da égua após a ovulação ( 6 horas em média).
As taxas de fertilidade do sêmen equino variam entre as raças. No Mangalarga Marchador são relatadas eficiências de 70% para inseminações utilizando sêmen fresco, 60% sêmen refrigerado e 50% sêmen congelado. Essas diferenças se devem aos diferentes danos que as células espermáticas sofrem durante os processos de refrigeração e congelamento. Esses resultados variam consideravelmente entre garanhões da mesma raça e diferentes programas de reprodução nos diversos haras, sendo diretamente influenciados também pelas éguas utilizadas. Uma série de fatores inerentes a cada haras interfere diretamente nas taxas de fertilidade dos programas de reprodução, entre eles podemos citar a condição corporal dos animais, nutrição, atividade física e qualidade das instalações (baias arejadas, piquetes sombreados).
A utilização do sêmen congelado em programas de reprodução na raça Mangalarga Marchador é uma realidade, e a tendência é que aumente consideravelmente. Portanto é de fundamental importância que os criadores procurem profissionais capacitados para realizar tanto os procedimentos de criopreservação do sêmen quanto de descongelamento e inseminação artificial das éguas. Sendo de suma importância o armazenamento e transporte adequados dos botijões contendo sêmen congelado. Além disso, fornecer instalações adequadas e utilizar animais em boas condições sanitárias e nutricionais, visando o bem estar dos animais e a melhoria da eficiência de todos os processos reprodutivos.
Bernardo de Lima Rodrigues CRMV-MG 9739
Médico Veterinário, formado pela Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais, Brasil.
Mestre em Reprodução Equina pela Colorado State University, Fort Collins, Colorado, USA.
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