1- Há quanto tempo está na raça Mangalarga Marchador? Você é criador também?
R- No marchador desde 2008, quando comprei meu primeiro cavalo registrado. Comecei com o desejo de criar sim, porém, rapidamente descobri que o que me movia era a parte técnica, a melhoria do desempenho, a competição.
2- Conte um pouco de sua história dentro da raça – sua trajetória, até chegar a dar assessoria aos haras?
R- Praticamente nasci e me criei em cima de um cavalo, meu pai e avô sempre criaram, só fiquei fora do meio, de 2004 (ano em que ambos faleceram) a 2008. Nesse interregno, por razões óbvias, fiquei bastante triste, desmotivado, foi quando em 2008, o amor pelo cavalo falou mais alto e decidi adquirir meu primeiro marchador. Sou formado em Direito, sempre gostei muito de ler, e foi através da leitura, dos cursos (fiz 34 (trinta e quatro) até hoje, pretendo fazer outros)), que fui me especializando. Como sempre me posicionei tecnicamente nos grupos de WhatsApp e nos encontros da raça, os amigos começaram a me chamar para dar opinião em seus criatórios, foi quando despertei para a possibilidade desta prática tão prazerosa pra mim, se transformar em profissão. Os convites para visitar os Haras foram se multiplicando e se tornaram cada vez mais frequentes, hoje presto assessoria técnica em 43 (quarenta e três) Haras espalhados pelo Brasil. Como consequência dos resultados dos Haras/parceiros nas competições, a demanda por curso também cresceu bastante e também faz parte do nosso portfólio.
3- Por que a marcha Picada?
E- Um conjunto de fatores contribuíram para escolha da Marcha Picada como sendo meu foco principal, dentre os quais destaco: O fato de ser natural de Pernambuco, um dos berços dessa modalidade de marcha no Brasil, a influência do meu pai e avô, que sempre criaram picado (mesmo que sem registro) e a percepção da carência do mercado no que tange a profissionais capacitados para exercer essa função, sem dúvida foram decisivos para minha especialização na Marcha Picada.
4- Hoje você é uma das referências em assessoria na raça, como chegou a este ponto?
R- Verdadeiramente nunca imaginei que o negócio Assessoria e Cursos profissionalizantes, tomariam a proporção que temos hoje. Quem acompanha nossa rotina de trabalho nos Haras e cursos, já se acostumou com o trabalho de Domingo a domingo. Essa dedicação por vezes “exagerada”, a honestidade sempre presente nas falas, orientações, pois me caracterizei por não falar o que os proprietários dos Haras e treinadores (peões) querem ouvir, com certeza impulsionaram o processo de afirmação no cenário nacional. Meu objetivo é sempre ser melhor amanhã do que fui hoje, eu busco isso permanentemente.
5- Quais são as principais dificuldades que você encontra nos haras por onde passa – nos diversos estágios de criação?
R- Eu costumo dizer que o criador de cavalos, aquele que na maioria das vezes também é o gestor de excelência no seu negócio, ramo de atividade principal, essa mesma pessoa, costuma tomar decisões no negócio cavalo que jamais tomariam na gestão das suas empresas, as decisões do cavalo, em sua maioria, aumentam em demasia o risco/negócio, haja vista que essas decisões comumente estão eivadas de paixão, de vaidade. Quando o criador consegue, minimamente, separar a paixão, da razão, os acertos se tornam mais frequentes em seus criatórios. Outro fator que prejudica inicialmente a criação é que grande parte dos criadores não buscam conhecimento antes de iniciar o negócio cavalo, mas essa parte é boa, pois aí surge a necessidade por Dudu Conexão (Rsss).
Outro aspecto que dificulta bastante o desenvolvimento dos criatórios é a ausência de mão de obra capaz e em quantidade suficiente, para atender as necessidades dos Haras, e isso em todas as esferas: Tratador, Peão, Assessor, Veterinário, Freteiro etc.
6- Preparar um cavalo de Marcha picada é mais difícil do que de batida?
R- Não tenho a menor dúvida que sim, o cavalo de marcha picada, sobretudo os genuínos, são muito mais “sensíveis”, digamos assim, que os indivíduos de marcha batida. Exigem do Cavaleiro mais conhecimento, sensibilidade e paciência. Prova disso é que, é muito mais corriqueiro um cavaleiro, que originalmente mexe com picado, ter sucesso na mexida com o batido, que o de batido acertar a mexida do picado.
7- Como você vê a crescente evolução na marcha picada em todo o Brasil? Já era uma tendência ou é uma surpresa? Por quê?
R- Para nós que militamos diuturnamente em favor da marcha picada, acompanhar esse processo evolutivo é sem dúvida muito gratificante e não nos causa surpresa alguma. O produto marcha picada é sensacional, atende a toda cadeia do processo de criação, desde ao trabalho nas fazendas, passando pelo tipo excelência (os atletas, competidores) até a demanda do usuário, é uma modalidade de marcha completa e que evolui tecnicamente de maneira muito rápida e satisfatória.
8- A nova diretoria da ABCCMM deu diversos cargos para Marcha Picada, ou seja, é o reconhecimento da modalidade dentro da raça – dando seu devido valor? Acha que vai haver um incremento maior por parte da associação?
R- A ABCCMM, tem um papel fundamental nesse processo de equidade das duas modalidades, e essas indicações para mais cargos, é um reflexo desse reconhecimento, demorou, mas é um começo. Temos vários nomes excelentes, que estão compondo a chapa vencedora, amigos/parceiros, inclusive, tenho certeza de que “lutarão” pela evolução e consolidação dos interesses na marcha picada como um todo. Estou confiante que haverá uma maior atenção a MP.
9- Hoje você acha que temos juízes especializados na picada ou falta uma formação de juízes somente para esta modalidade?
R- Entendo ser natural a maior dificuldade de os árbitros julgarem a marcha picada, e por uma razão muito simples, nenhum é criador de picada, portanto eles não idealizam acasalamentos, não veem nascer, não veem apartando, não acompanham o desenvolvimento/mudanças das características até a fase de doma, não domam, não preparam para as pistas, enfim, a tão enaltecida hora de curral, eles não possuem na marcha picada.
O que não tiram deles a vontade de acertar nem os tornam incompetentes, longe disso. Temos um quadro extremamente capaz, porém penso que já passou do tempo de termos um “encontro” a fim de que possamos conversar, discutirmos efetivamente as nuances, variáveis da picada, para que possamos ter cada vez mais julgamentos acertados, coerentes e norteadores.
No que diz respeito a formação de um quadro de árbitros exclusivamente para marcha picada, não julgo ser o ideal, entretanto, não descarto a possibilidade num futuro próximo, haja vista a crescente necessidade de um corpo especializado, bem como aumento do número de animais participantes nos eventos da raça, acredito inclusive que o maior deles, a Nacional, em razão de uma incapacidade de suportar o quanto das duas modalidades no parque da Gameleira, também será dividida, talvez uma semana batido, na outra picado. Vamos aguardar e tratar prioritariamente os interesses da marcha picada.
10- Estamos nos aproximando do CBM 2021? Você acha que vai ser a competição mais apertada dos últimos anos na marcha – por quê?
R- As expectativas são enormes, a evolução da marcha picada é avassaladora, um caminho sem volta, consequentemente o nível da competitividade é altíssimo. Os Haras estão cada vez mais preocupados em planejar, profissionalizar todos os setores, desde o produzir volumoso de qualidade, passando pelo maior cuidado com os acasalamentos, preocupação com a qualificação da mão de obra, e isso reflete diretamente na alta qualidade dos animais apresentados, sem falar que uma parte dos animais juniores e jovens são produtos oriundos de TE (transferência de embrião), o advento do embrião é indubitavelmente determinante nesse processo evolutivo.
Por fim, quero agradecer o convite e oportunidade de compor esse projeto pioneiro que a Revista Raça Marchador, edição especial Marcha Picada. Aproveitar para parabenizar a todos os envolvidos e desde já me colocar à disposição para toda e qualquer necessidade, contem comigo sempre.