CRISTIANA GUTIERREZ – HARAS MORADA NOVA | REVISTA RAÇA MARCHADOR

CRISTIANA GUTIERREZ – HARAS MORADA NOVA

ENTREVISTA

CRISTIANA GUTIERREZ – HARAS MORADA NOVA

CRISTIANA GUTIERREZ – HARAS MORADA NOVA

Uma das características mais marcantes do Mangalarga Marchador é a capacidade de agregar pessoas em torno de um mesmo objetivo. Não à toa, é comum ouvirmos sempre o termo “A Família do marchador.” No Haras Morada Nova, a expressão é literal. Uma família apaixonada pela nossa raça e que, há quase três décadas, se dedica à evolução do cavalo Mangalarga Marchador. Melhor criador/expositor da Nacional 2018, o Haras vai em busca do bicampeonato, em 2019. Em meio ao corre-corre dos últimos ajustes para o principal evento da raça, Cristiana e Flávio Gutierrez, titulares do Haras Morada, conversaram com a Raça Marchador. Eles falaram sobre a história do criatório, o trabalho de seleção de quase três décadas e das perspectivas para a Nacional 2019.

Raça Marchador: São 29 anos de criação da raça. Cristiana, olhando para trás, tem algo que você faria diferente de quando começou o criatório lá no início dos anos 90?  

Cristiana Gutierrez: Há várias formas de analisar. Os acertos são frutos dos erros e eu sou de uma geração que os criadores que entram na raça, hoje, nem conseguem imaginar. Não existiam as facilidades que existem atualmente, não havia transporte de sêmen, transferência de embrião, hoje todo mundo tem acesso à boa genética. A internet e redes sociais   possibilitam conhecer os animais sem, muitas vezes, ir às fazendas. Isso é bom pela praticidade, mas a gente perdeu muito em convivência. Antigamente, para conhecer a produção de um cavalo eu ia até a fazenda, conhecer o plantel. Demorou 28 anos pra gente se tornar o melhor criador/expositor da Nacional, mas o sucesso não pula etapas e meu maior mérito foi nunca parar, mesmo em meio às dificuldades. Todo criatório passa por momentos bons e momentos ruins e é preciso estar atento para aprender, porque errar todo mundo erra, o importante é não repetir os mesmos erros. Mas nos erros e acertos o que te mantém firme, na raça, é a paixão pelo cavalo. 

Raça Marchador: A gente poderia dizer que, além de vitoriosa é uma trajetória de realizações?

Cristiana Gutierrez: Sim. Sob o nosso ponto de vista de como as coisas aconteceram. Meus filhos cresceram em torno da raça e o meu filho mais velho convive com o Mangalarga Marchador desde sempre. Foi tudo da maneira como deveria ser. Posso dizer que sou reconciliada com minha história. 

Raça Marchador: Ainda nessa parte histórica, uma pergunta que todo mundo faz, principalmente, porque as mulheres estão muito inseridas no contexto da raça, atualmente, como foi ser uma das primeiras mulheres a criar cavalo? Houve preconceito? E ainda existe, hoje, em relação a uma mulher que se dedica a criar cavalos?

Cristiana Gutierrez: Quando eu comecei, de fato, eram poucas mulheres. Tinham muitas esposas de criadores, que tinham um papel muito importante na raça, mas, de fato, titulares dos haras eram poucas. Hoje as mulheres estão completamente ativas, mas o que eu sinto na nossa raça e eu acho uma pena é ter pouca mão-de-obra feminina envolvida no dia-a-dia dos haras. Como na Europa, por exemplo, onde há um número significativo de mulheres do manejo à equitação. Se existe preconceito… nada que não fosse superado pela vontade e pela paixão em criar cavalos. 

Raça Marchador: Falta incentivo ou oportunidade?

Cristiana Gutierrez: Às vezes eu acho que falta a gente se atentar pra isso e começar a formar essa mão-de-obra. Eu acho que é uma coisa possível porque se acontece em outros países. Mas eu acho que é um movimento que a gente ainda vai ver no futuro, sabe?

Raça Marchador: Vamos falar agora do Plantel. Qual foi a base da seleção do Morada Nova? 

Nossos primeiros animais eram voltados para enduros e cavalgadas. Um momento importante, sem dúvida, foi quando adquirimos as éguas do criatório Kitanda, da Bahia. Por serem 12 irmãs, isso facilitou muito pra gente começar. Eram todas filhas do Arubé Bela Cruz e que é sangue do Tabatinga Predileto, um dos ícones da raça. Neste momento eu pensei: vou virar criadora. Depois com a chegada do Jaburu da Santa Terezinha foi determinante. Além da Meca da Kitanda, que foi campeã nacional logo depois que eu a comprei, e todo criador novo quer ter um animal premiado, foi o que me trouxe um novo ânimo. A aquisição do Extrato do Itapé e a concomitante parceria que possibilitou a ida da Onda Dourado SM pra casa, foi um salto para o criatório. Desse cruzamento obtivemos vários animais Morada Nova campeões nacionais. Além disso, tivemos a introdução de uma genética que desejávamos, o que possibilitou os próximos passos, culminando no Teorema.  

Raça Marchador: Vamos falar, então, do Teorema, a grande estrela do plantel!

Cristiana Gutierrez: O Teorema foi o grande marco. Nasceu em 2007 e teve uma trajetória muito rápida. Foi Campeão Nacional jovem duas vezes e na primeira Nacional montado foi reservado Campeão dos Campeões de Marcha e o Grande Campeão da Raça. Acho que ele é o espelho do que é a vida do criador, quando você finalmente produz um animal que te representa. Ele reúne tudo aquilo que a gente imaginava de um garanhão e confirmou isso tudo muito rápido. 

Raça Marchador: Um cavalo bonito, marchador, um cavalo completo...

Cristiana Gutierrez: Eu não tenho coragem de falar que ele é completo, mas é um cavalo de média muito alta, de morfologia e andamento. A mãe dele, Ondina da Morada Nova, reúne o sangue e as qualidades da Onda Dourado SM que falamos antes. Quando o Teorema começou a reproduzir ficou aquela expectativa: nasceu bom, será que vai dar certo montado? Depois foi o grande da raça, será que vai ser o reprodutor que a gente imagina? Hoje estamos vivendo uma boa fase vendo que após ter passado por todas essas etapas, continua comprovando a sua qualidade. É Tetra Campeão Nacional Progênie de Pai e agora nós já temos o prazer de ver os filhos dele se destacando na reprodução e filhas dele como excelentes doadoras testadas com diferentes cavalos. Acho que o Haras Morada Nova chegou ao auge no momento em que o cavalo também chegou. É um dos cavalos que está muito bem posicionado num seleto universo dos cinco, talvez dez maiores garanhões da raça hoje, e foi exatamente o momento em que o criatório também se destacou mais.

Raça Marchador: Qual a importância da equipe nesse trabalho que o Haras Morada Nova vem desenvolvendo ao longo de quase três décadas?

Cristiana Gutierrez: Sempre repito que o principal capital nosso é o ser humano. Em todo negócio hoje, o ponto crucial são as pessoas. Hoje temos uma equipe madura, motivada, que se apoia em todos os aspectos e nos dá segurança para enfrentarmos os desafios. Entendemos que é sempre uma relação de parceria, companheirismo e confiança, entre criador e colaboradores. Existe uma cumplicidade enorme e o Wilson, nosso gerente, que está sempre à frente dessa equipe. 

Raça Marchador: E o papel do Serginho Goulart?

Cristiana Gutierrez: Serginho está conosco há 17 anos e o papel dele é muito importante no processo de avaliação zootécnica da tropa e orientação dos cruzamentos. O técnico tem a obrigação e a função de fazer a avaliação bem feita. Cabe ao criador deixar a paixão um pouco de lado, escutar e ponderar, e cabe a ele também, em que pese a avaliação, considerar o gosto do criador porque tropa tem que ter identidade. A gente tem uma sintonia muito grande, empatia e empatia muito grandes, o que possibilita uma troca de conhecimento, experiência e facilita muito o trabalho. Podemos dizer que ele é peça fundamental no nosso processo de seleção. 

Raça Marchador: E o papel dos filhos?

A Júlia, nos últimos dois anos, voltou a ser atuante na fazenda, também no escritório e tem me dado muito suporte. Fernanda tá estudando no exterior, há cinco anos, mas sempre que está presente nos acompanha em tudo e vibra com as nossas conquistas. Já o Flávio é o fiel escudeiro e tem papel fundamental na evolução do criatório nos últimos 12 anos, com muita visão de mercado e estratégia de pista.

Raça Marchador: O Haras Morada Nova levou o título de melhor Criador/Expositor da Nacional 2018. Para 2019, vem o bicampeonato?

Cristiana Gutierrez: Eu acho que se a gente ficar ali entre os três primeiros vai ser maravilhoso. O mais importante é que estamos levando os animais para nacional que estão no melhor ponto. A equipe está consciente, com o objetivo comum e eu sinto todos muito focados. Sabemos que na Nacional tudo pode acontecer, do momento em que começa até o momento que termina, a gente vai do céu ao inferno e fica todo mundo sujeito a muitas variáveis. Mas vamos com fé acreditando sempre no melhor.

Companheiro de todas as horas

Flávio Gutierrez é braço direito da mãe e tem papel fundamental na evolução do criatório.

Flávio Gutierrez, literalmente, cresceu na fazenda. De acordo com Cristiana, o filho aprendeu tudo sobre a raça e continua, a cada dia, em busca de novos conhecimentos para a evolução do plantel Morada Nova, contribuindo para o desenvolvimento da raça. 

Para Flávio Gutierrez, a raça evoluiu muito, nos últimos vinte anos, e quem não se adaptar a essa realidade vai ter dificuldades. “A raça cresceu e evoluiu muito, em quantidade de eventos, leilões e criadores. O nível também é muito alto. Na minha visão, de 30 animais em pista numa Nacional, ficar entre os 12 já é um nível muito alto. A seleção hoje tá muito mais apertada e quem não fizer isso fica para trás.”

Um dos grandes orgulhos do criador, junto com sua mãe, é manter no plantel, o principal reprodutor do Haras. “Dos dez melhores garanhões do ranking, o Teorema é o único que está na mão do próprio criador e isso é um orgulho muito grande para nós.” Comemora.

Apesar de buscar o bicampeonato, em 2019, Flávio, assim como a mãe, entende que estar entre os primeiros já vai ser um grande motivo para comemorar. “Eu acho que a gente tá na briga e empenhado, o pessoal tá no projeto. Vamos levar mais animais ainda do que levamos o ano passado e isso é um ganho de competitividade. Nossa equipe comprou a ideia da Nacional. É o ponto alto é onde se consagram peões, gerentes, criadores, técnicos. É a nossa Copa do Mundo.” 

 

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Raça Marchador Edição 2

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