Criador do Haras Picadão e Diretor de Marketing da ABCCMM

Nesta entrevista para Raça Marchador, Manoel Campos, criador do Haras Picadão em Teodoro Sampaio (BA) há 10 anos, e Diretor de Marketing da ABCCMM, nos responde com muita clareza sobre vários questionamentos dos criadores e nos fala sobre o panorama geral da Marcha Picada no Brasil, bem como sobre julgamentos, mercado e muito mais. Leiam a seguir:

Pela primeira vez temos na diretoria da ABCCMM um criador de Marcha Picada. Você acha que a ABCCMM acordou para a relevância desta modalidade e de ter representantes dentro da associação dialogando com os criadores? Aliás, durante o pleito ambas as chapas tiveram candidatos com integrantes da picada?

Não podemos esquecer do trabalho das gestões anteriores, que fizeram com que a Marcha Picada chegasse até aqui. Desde a liberação dos julgamentos, passando pela consolidação dos eventos principais como a Nacional e o CBM exclusivo de Marcha Picada, até chegar nessa evolução de andamento que estamos acompanhando.

Fiquei muito feliz com o convite de integrar a chapa União da Raça, formada por pessoas competentes tanto na criação quanto na vida pessoal e que comungam os mesmos valores que eu. Estive durante 6 anos atuando no Núcleo Baiano e pude perceber o quanto é importante ter criadores dos dois tipos de andamento a fim de representar todos os nossos associados, principalmente porque são momentos diferentes. A Marcha Picada começou a ser julgada há apenas 18 anos, o que ainda é muito recente para a criação de qualquer animal. Possui cada vez mais a necessidade de consolidar o seu padrão ideal da marcha, bem como a seleção genética para este tipo de andamento. A Marcha Batida possui uma base sólida de seleção e continua com a busca por animais cada vez mais evoluídos. Nossa raça só tem a ganhar com o fortalecimento dos dois tipos de andamento, o que faz com que nosso Mangalarga Marchador seja tão especial.

Você, como criador da raça e diretor da ABCCMM, como enxerga este crescimento vertiginoso da Marcha Picada no Brasil? Ao que se deve isto?

O mercado é soberano e sempre vai ditar a demanda. A Marcha Picada se consolidou em uma área democrática, de mais fácil acesso, principalmente em eventos ligados ao cavalo como cavalgadas, romarias, copas de marcha. A demanda por animais que naturalmente fossem mais cômodos e mais acessíveis financeiramente levou criadores a dedicarem sua criação para atender essa demanda. Um forte mercado em expansão, que hoje já não podemos dizer que está concentrado em uma parte do Brasil, como o Nordeste, mas sim uma realidade dentro de mercados de alto potencial de crescimento como São Paulo, Rio de Janeiro, Centro-Oeste e até mesmo no interior de Minas Gerais.

Na Nacional, maior vitrine da raça, tivemos uma porcentagem significativa de crescimento de expositores da picada. Você notou evolução nos animais julgados?

Atingimos o recorde de inscrições de Marcha Picada, mantendo o ritmo de crescimento dos últimos anos. Porém, mais importante do que isso é ver a qualificação dos animais. Isso é o que faz a raça e a Marcha Picada crescerem e se consolidarem cada vez mais. Podemos perceber que, nos principais eventos da raça, tanto regionais quanto nacionais, os Campeões dos Campeões nos machos e nas fêmeas estão saindo para animais jovens, o que evidencia a evolução técnica da raça.

E falando em julgamento, notou-se um descontentamento geral quanto aos árbitros de Marcha Picada na Nacional. Fato é a discrepância nas notas no painel. Existe por parte da ABCCMM alguma iniciativa junto à ENA de treinar árbitros exclusivos para a Marcha Picada?

80% do corpo de jurados que esteve envolvido no julgamento da Marcha Picada foi escolhido pela maioria dos criadores através da votação pelo site da associação. Na minha opinião, nenhum resultado foi afetado, até mesmo pelo critério da eliminação das notas extremas. Estive acompanhando todos os julgamentos em todos os dias e existe sim a necessidade de uma consolidação do que queremos como padrão para a Marcha Picada, e isso é a principal tarefa da Comissão da Marcha Picada, formada por criadores experientes de todas as partes do país que vem se reunindo com frequência e com um alto grau de comprometimento para esse objetivo, sempre apoiada pelo nosso corpo técnico.

Não é uma tarefa fácil e nem tínhamos como objetivo resolver isso em seis meses de gestão, mas tenho certeza de que nos próximos quatro anos sairemos com esse e outros pontos muito bem amadurecidos. Entendo que todo jurado da ABCCMM possui a capacidade técnica e necessita estar apto a julgar os dois tipos de andamento que representam a nossa raça, e por isso a busca por esse padrão é de suma importância para evitar distorções e, principalmente, direcionar nossos associados para qualificar a sua criação.

Ao seu ver diante do crescimento da Marcha picada no Brasil, você acredita como criador que um dia teremos as duas marchas equiparadas em número de criadores e plantel?

Em quantidade de animais julgados nos principais eventos já é uma realidade ou está muito próxima de acontecer. Mas ainda existe uma diferença muito grande em quantidade de criadores e plantel entre as duas marchas. Importante é ter as duas marchas fortes e em evolução aproveitando essa característica abrangente do nosso cavalo.

Agradeço a oportunidade e estamos sempre abertos aos nossos associados e leitores da Raça para debater sobre assuntos ligados à nossa raça, a Marcha Picada e a nossa Associação.