TODO CAVALO FOI POTRO UM DIA, MAS NEM TODO POTRO SE TORNARÁ UM CAVALO | REVISTA RAÇA MARCHADOR

TODO CAVALO FOI POTRO UM DIA, MAS NEM TODO POTRO SE TORNARÁ UM CAVALO

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TODO CAVALO FOI POTRO UM DIA, MAS NEM TODO POTRO SE TORNARÁ UM CAVALO

TODO CAVALO FOI POTRO UM DIA, MAS NEM TODO POTRO SE TORNARÁ UM CAVALO

A Neonatologia Equina é a base de qualquer criação de cavalos. É a base do seu futuro atleta, uma das épocas mais importantes de um Haras é o início dos nascimentos. Os potros são produzidos a partir de acasalamentos pensados de maneira criteriosa, almejando um futuro campeão.

Muitas vezes são feitos altíssimos investimentos ao adquirir um óvulo, embrião ou cobertura de um animal consagrado nas pistas ou comprovado na sua produção. A Neonatologia Equina está diretamente ligada à prevenção. Os cuidados com os potros iniciam-se desde a barriga da égua e são cruciais para que eles cresçam saudáveis, bem desenvolvidos e se tornem possíveis atletas.

Com toda essa coisa de Covid-19, que não apenas nós, mas o mundo viveu, a gente aprendeu, meio que na marra, que prevenção salva muito mais vidas. Já virou uma “questão cultural” falar e achar que potros recém-nascidos morrem mesmo, né?! Não! Potros, na maioria das vezes, morrem quando são negligenciados.

Um dos maiores problemas que enfrentamos atualmente é que as éguas prenhes também são negligenciadas, principalmente as éguas receptoras. A maioria dos partos ocorrem sem supervisão, e isso, na minha opinião, é um ponto bastante negativo. Hoje temos vários recursos que nos permite identificar a proximidade da data do parto, e além desses recursos, a égua gestante nos “avisa” quando vai parir. E com essa informação conseguimos deixar um funcionário de plantão. Aí vem a questão do custo desse funcionário e eu te respondo: “Quanto custa um potro?” Tenho certeza de que o custo do funcionário/ ano é bem menor que valor do potro. E ainda completo essa resposta dizendo que “o custo do cuidado é bem menor que o custo do reparo”.

Com um parto acompanhado podemos identificar problemas bem comuns em nossa rotina, como exemplo de uma distocia, ou éguas com pouca contração que precisam de auxílio, além de uma infinidade de outros problemas que podem ocorrer. Uma equipe bem treinada e em sintonia com o Médico Veterinário já é meio caminho andado na identificação de possíveis problemas e no trabalho de prevenção.

O potrinho nasce com um cronômetro dentro dele, existe o que chamamos de “regra 1,2,3”. Ele tem que se levantar em até 1 hora; tem que estar mamando o colostro em até 2 horas; e tem que ocorrer a expulsão da placenta pela égua em até 3 horas. Se ele demora para ficar em pé, consequentemente ele vai demorar para mamar o colostro e ingerir as imunoglobulinas necessárias para a defesa do seu organismo e ainda teremos o episódio de hipoglicemia, retenção de mecônio e mais um efeito dominó de sérios problemas.

Quando a égua demora mais que o tempo habitual para expulsar a placenta, isso pode gerar graves problemas para a saúde dela e por consequência para o recém-nascido. Se eu chego no Haras e não tenho essas informações: Qual foi a hora do parto? Quanto tempo o potro levou para levantar-se? Qual foi a hora da primeira mamada? A égua expulsou a placenta? A égua tem leite? Sem essas informações básicas, como vou saber se eu tenho um potro com problema? Um funcionário que consegue identificar um parto normal x parto anormal; um potro normal x potro anormal; tempo de levantar-se, mamar, defecar, urinar, expulsão da placenta, égua com dor... O Médico Veterinário já tem uma ideia da situação. Potros neonatos debilitam muito rápido. Ou seja, é um atendimento emergencial. Muitas vezes o potrinho está aparentemente bem pela manhã, e a tarde veio a óbito. E aí, todo aquele planejamento e expectativa vão por água abaixo. Um potro é considerado neonato até os 15 dias de vida, e se ele adoece gravemente nesse período, ele diminui em até 5 vezes a chance de se tornar um atleta. A fase pediátrica é considerada dos 15 dias de vida até os 6 meses de idade. E se as doenças ocorrem nesse período, essa chance aumenta para 7 vezes. Não preciso nem dizer o quão grave isso é para o que desejamos para o criatório.

Muitas vezes compramos um animal adulto, já em fase de treinamento paras as pistas, e esse animal apresenta problemas no sistema locomotor ou respiratório, por exemplo. Isso pode ter sido uma enfermidade que ele teve lá atrás, quando ainda estava na fase neonatal ou pediátrica que está refletindo no futuro dele. Potros que apresentaram afecções ortopédicas (artrite séptica, desvios angulares), respiratórias (pneumonia por Rhodoccocus Equi), Sepses, Diarreias, entre outras inúmeras enfermidades neonatais, terão a curva de crescimento afetada. Por isso, insisto tanto no trabalho de prevenção e na qualificação da mão-de-obra. E voltando lá no período gestacional da égua, que é onde tudo começa... Você sabia que elas também precisam (e devem) fazer acompanhamento pré-natal? Nessa fase da égua conseguimos: Identificar precocemente problemas de saúde,
identificar placentites, monitorar o crescimento fetal, prevenir abortos, controle nutricional e sanitário, além de nos prepararmos para a proximidade do parto. Todo e qualquer problema de saúde na égua nessa fase torna a gestação de alto risco.

Potros prematuros tem uma alta predisposição a nascerem com a ossificação incompleta interferindo diretamente no futuro dele como atleta, e o ambiente uterino da égua tem grande influência nesses casos. Acredito que o sucesso de um Haras não se dê apenas pelos seus bons resultados em pista. Ser campeão é muito bom. Mas ser campeão com o produto do seu sufixo, tenho certeza de que é muito melhor. E ser referência na produção
de potros de excelência no que diz respeito à saúde? Tenho certeza de que é ainda melhor. Vale a reflexão!

Carolina Medeiros / Médica veterinária
Atendendo a uma dezena de Haras de Marcha Picada em Pernambuco e Alagoas, com média de 250 nascimentos/ano

 

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Raça Marchador Edição 12

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