1) Quando começou a criar e porquê?
Possuo cavalo desde que nasci, mas na fazenda de meus avós em Valença/RJ, onde passava minhas férias que sempre montava. No entanto, criar cavalo de forma efetiva como associado da ABCCMM, desde 1987 – 35 anos de seleção.
Crio cavalos porque sou fascinado por este incrível animal, e o Mangalarga Marchador foi uma escolha natural pela sua comodidade e docilidade. Guardo uma frase popular que diz: “Deus fez o cavalo com a intenção de ser esta, outra espécie de animal, no entanto, o Cavalo fez do Homem um rei”.
2) Em que local da região sul do RJ está localizado o tradicional haras Camboinhas?
O Haras Camboinhas situa-se em Morro Azul na divisa de Vassouras com Miguel Pereira, região Sul do Estado do RJ, onde concentra-se inúmeros criatórios de M.M.
3) Como é a estrutura do haras?
É uma estrutura que foi planejada gradativamente visando maior praticidade e com vistas na sustentabilidade da criação. Plantamos tifton 85 em 30 hectares, para produzirmos feno enfardado, plantas ornamentais, criação de carpas e poucas cabeças de gado. A criação de cavalos tem a nossa principal afeição. A estrutura possui piquetes, 40 baias, capineiras, raias para natação, farmácia e laboratório que atendem a central de embriões. A sede restaurada completará 100 anos e é cercada por vasta mata atlântica. A consciência de preservação ambiental está sempre presente em nossos planos.
4) A família é importante estar junto da Criação?
A família é importante estar junto de tudo que fazemos neste mundo. Sinto saudades de amigos do passado que acabaram por algumas razões se afastando da criação cavalos, acho que anteriormente as famílias se reuniam com maior frequência prazer.
5) Quais são os principais garanhões do Haras?
A nossa base de éguas são netas do Carvão L.J. e filhas do Discreto JB X Canária J.B. Nas filhas do Discreto JB selecionamos um cavalo de alta média nos quesitos de marcha superior e morfologia apurada o nome ASTRO DA PAO GRANDE. Nas filhas do ASTRO a maioria premiadas em grandes exposições especializadas, (conforme fotos). Nas filhas do Astro optamos em cobri-las com os garanhões Campeões Nacionais, Abiara da Figueira e com o garanhão Rivelino da Plataforma, fazendo dois testes sobre a mesma base de doadoras e matrizes.
6) Quais são suas principais doadoras?
Sem pretensão, todas são pratas da casa: Miragem Vermelha de Camboinhas, Pintura Vermelha de Camboinhas, Vareta Vermelha de Camboinhas, Cereja Vermelha de Camboinhas, Chic Vermelha de Camboinhas, Areta Vermelha de Camboinhas, Ameixa Vermelha de Camboinhas e Camurça Vermelha de Camboinhas, todas essas confirmadas na reprodução.
7) Como é focado seu trabalho de seleção? E porquê?
Como se pode ver, nossa tropa ao longo dos anos tornou-se homogênea e foi esculpida dentro de nossa casa e seguindo nossa crença. Buscamos reprodutores evoluídos para agregar avanços específicos e graduais em nossa tropa, com um enorme cuidado para não perder a base construída ao longo do tempo, como índole, força nos posteriores, boa caracterização racial e principalmente marcha evoluída que só foi possível ser obtida, após a virada do segundo para o terceiro milênio, até 1999, quem estava na frente, passou para o final da fila... animais diagonalizados foram sendo execrados das pistas e marcha saltou de um patamar do subsolo para o 10* andar. Não acreditamos em sucesso sem que conheçamos derrotas e também de criatórios que insistem em pulverizar acasalamentos, pois a falta de uniformidade e planejamento sequencial não permite que cheguemos a uma evolução consciente e estrutural. Coincidentemente durante a busca na seleção, nossa tropa foi “avermelhando” na pelagem ficando castanha ou alazã. Não foi uma imposição, mas sim uma natural transformação. Fomos pioneiros na exportação do M.M. para América Latina (Uruguai e Argentina). Exportamos mais de 60 cavalos de forma oficial, enfrentamos forte barreira sanitária por conta da babésia\quarentena, nossa raça convive até hoje com os carrapatos e lá fora isto está erradicado, há décadas. À época percebemos que os importadores possuíam diversas restrição em relação as pelagens, NÃO SOLIDAS, em função de alegações fundadas e outras infundadas: Probabilidade maior de albinismo nos tordilhos, menor absorção de vitamina D (raios solares), menor resistência às geadas que ocorrem naquelas regiões, maior incidência de câncer de pele e a incompatibilidade das pelagens claras com as camas \ serragens de eucaliptos vermelho (única existente na região) que manchavam os animais. Evidente que o bom cavalo não depende de sua cor, ou pelagem e sim de suas qualidades e virtudes, tais como: docilidade, versatilidade e rusticidade, mas como os cavalos de pelagens sólidas eram os preferidos e também no Brasil já se podia notar uma mutação no fator pelagem, assim seguimos nossa seleção ultrapassando os modismos equivocados que tomaram um pouco de tempo em nossas avaliações. Uma época foi a ossatura exuberante, que caiu por terra, depois o tal “jarretão” que pressupunha impulsão posterior do cavalo, até exagerada quase arpejando, depois as mãos excessivamente roladas. Mais recente a tal troca rápida de apoios que foi desmascarada, pelas suas retro pegadas com pressão dos cavaleiros e ao mesmo tempo contenção nas embocaduras.
8) Astro da Pao Grande fale um pouco do garanhão e de sua produção?
Na realidade um bom reprodutor dispensa comentários, a sua produção fala por si. Astro da Pao Grande com certeza é um dos melhores filhos do Lótus e com apenas 8 anos possui mais 30 filhos campeões, iniciando a 3ª geração possui um índice elevadíssimo de campeões em exposições especializadas (50%).
9) Como você vê a raça Mangalarga Marchador na atualidade?
É preciso diferenciar o verbo crescer do verbo inchar. Segundo a nossa associação possuímos hoje 19 mil associados e isto mostra um grande potencial de aceitação da raça em todo território nacional, no entanto uma produção desenfreada, ou mal coordenada acarreta uma oferta desproporcional a demanda, com isto os cavalos perdem liquidez (exceto os grandes campeões) e promovem inevitavelmente prejuízos operacional aos criadores, que acabam ao final de um certo tempo, optando por encerrar sua atividade rural insustentável. Acho que o grande desafio de nossa raça é transformar a criação de M.M. em uma atividade rural SUSTENTÁVEL. É imperativo que os criatórios procurem se enquadrar no seu tipo de mercado, de forma que possa buscar viabilizar a sua sustentabilidade. Evitando assim prejuízos e frustações, que só são suportados pela insistência descomedida e a vaidade de alguns. Um pequeno criatório pode ser rentável ou sustentável, claro, se bem planejado um pequeno criador pode ser sustentável, ou até ter lucro, enquanto um grande criatório pode se transformar em um negócio perigoso e amargar enormes prejuízos!
10) O porque do nome Mangalarga para a Raça?
Esta resposta está cientificamente comprovada! O nome Mangalarga é oriundo da Fazenda Mangalarga que pertenceu ao Barão de Paty do Alferes, Sr. Francisco Peixoto de Lacerda Werneck. Esta historia está documentada através de registros diversos e que mostra inclusive a relação do Barão de Paty na câmara imperial com o Barão de Alfenas, bem como, o parentesco entre o Barão de Paty com os titulares das Fazendas Favacho e Bela Cruz. Existem provas robustas catalogadas em acervo próprio com diversos documentos probatórios. Isto em nada diminui o fato do berço da raça MM estar no Sul de Minas de nosso maracanã equestre ser o Parque da Gameleira, que o povo amigo e irmão mineiro ser o grande protagonista desta raça mas o nome Mangalarga, com todas as vênias meus amigos, indiscutivelmente, nasceu na Fazenda Mangalarga!
11) A região Sul fluminense é um dos maiores redutos da criação da raça?
Com certeza, a região Sul do estado do Rio de Janeiro está entre as três maiores regiões de concentração de criadores da raça por m2 de todo território nacional.
Existem aproximadamente 300 criadores de diversos tamanhos num raio de 30 quilômetros, considerando na direção Norte\Sul (Três Rios até Resende) e na direção Leste/Oeste (Seropédica até Rio das Flores). Dentro deste perímetro existem 15 municípios que são abrangidos pela atuação no nosso Núcleo Rio Sul CCMM, desde 2017, um dos núcleos mais atuantes de todo território nacional. Muitos são os criatórios renomados com sua seleção no sul fluminense, como os Haras; Pao Grande, MH, Catimba, Malboro, Sagrado Coração, Camboinhas, Turvo, Plataforma, Corumbá, Piabanha, Mandasaia, Capim Fino, Lago Azul, Gandaia, Caballu, Nembi, Tucunaré, Luekim, Macadú, Fortega, Sapupara, Chacrinha, Maratuã, Werneck, entre tantos outros que é impossível descrever todos.
12) Como é presidir um Núcleo com esta magnitude?
Requer muitas responsabilidades, assim como todos os demais Núcleos do Brasil e exige muita dedicação, planejamento e porque não dizer uma boa dose de diletantismo. Não há risco de lucro só de empate ou prejuízo. Tem horas que me pergunto por que aceitei este desafio... é malsinada paixão que faz a gente mergulhar de cabeça no escuro. (risos)
13) Quais foram os principais projetos realizados durante sua gestão?
Você que no Passado foi diretor da ABCCMM? Como você avalia a atual gestão da ABCCMM e o que poderia ser feito para melhoria da raça?
Entendo que o principal projeto de minha gestão foi retornar com os eventos oficiais em nossa região Sul do RJ, que estavam desativadas há mais de uma década e o segundo ponto foi estabelecer o padrão Rio Sul de qualidade, onde pensamos em tudo e em todos, a começar com a recepção digna a todos os profissionais que participam dos eventos (peões, ajudantes, técnicos, juízes, criadores, familiares e o público em geral). Acho que este projeto foi realizado com sucesso e lamentamos que a pandemia tenha interrompido a sequência dos eventos e que a ABCCMM por um descuido, ou equívoco tenha permitido que outro Núcleo tenha sido chancelado para atuar em nossa mesma jurisdição, ferindo os regulamentos da própria associação, como também o nosso estatuto devidamente registrado nos órgãos competentes.
Realmente exerci a diretoria de MKT da ABCCMM no início da década 90 e na época convidei o amigo e brilhante ator Antônio Fagundes que foi protagonista da novela Rei do Gado para difundir a nossa raça na grande mídia, no entanto, nosso orçamento era tão restrito, que não podíamos veicular o projeto nas grandes emissoras de tv, tivemos que nos restringir a poucas inserções em canais de pouca audiência/ibope.
No tocante da atual gestão penso que temos muito a fazer:
A) Já estamos com a raça consolidada no aspecto de ser um cavalo sela incomparável e imbatível com marcha evoluída, equilibrada com temperamento dócil e inteligente, não justificando a meu ver a permanência do livro aberto. Cabe ressaltar que uma raça no exterior para ser considerada e reconhecida precisa ter cinco gerações de antecedentes na linha alta e também na linha baixa.
B) A ABCCMM é uma instituição de grande porte e faturamento de quase 30 milhões de receitas/ano e precisa ter transparência em sua gestão; faz-se necessário valorizar o quadro de árbitros aproximando-os cada vez mais da certificação científica e valorizando a importância destes juízes e ao mesmo tempo exigindo destes imparcialidade. Os juízes são como pilotos de um grande avião não deveriam ser terceirizados e sim possuírem cargos de educadores\instrutores dentro da própria associação. Não cabe aos juízes exercerem funções incompatíveis com a sua importantíssima missão de julgador, assim como no poder judiciário – um juiz não pode advogar, não pode exercer a função de promotor, tão pouco participar de transações mercantilistas. Temos um excelente quadro de juízes que na sua grande maioria são muitos bem preparados e corretos, fazem um trabalho fundamental para a raça e atuam como formadores de opinião;
C) Os Núcleos regionais são o braço direito da nossa associação e precisam ser tratados com todo o apoio e atenção. Almejo que no futuro a associação encontre uma fórmula de fornecer os serviços de arbitragem e dos técnicos de pistas, para que os núcleos realizem a parte que lhes cabem de se responsabilizarem pelos demais custos e trabalhos dos eventos, tais como: contratação de baias, empresas promotoras, locação de espaços, divulgação, recepção do público em geral, entre outro, aí sim teremos chances de tornar a nossa atividade rural (equinocultura) viável e sustentável.
14) Estamos passando por um processo eleitoral novamente – com duas chapas e bons candidatos?
Sim, todos os candidatos são pessoas credenciadas e preparadas para assumir a nossa associação, no entanto, espero que os vencedores além de conduzir a gestão com transparência e desenvoltura a nossa Associação Brasileira, implemente no futuro próximo o voto eletrônico, como é de se esperar num Estado Democrático de Direito.
15) Qual sua opinião sobre o processo eleitoral que ainda está regido sobre um estatuto ultrapassado?
Reestruturá-lo o mais breve possível, corrigindo seus equívocos e ajustando tudo aquilo que for necessário para uma associação da magnitude da nossa e de âmbito nacional.
16) Qual seria sua sugestão aos candidatos de mudanças e melhorias na ABCCMM para o futuro a ser realizado após a eleição?
Aquelas que sugeri acima, reiterando;
A) implantação do voto eletrônico;
B) Valorização dos quadros de árbitros, concedendo maior autonomia, vínculo empregatício e exigindo imparcialidade e restringindo incompatibilidades;
C) Buscar maior transparência administrativa e apoiar de forma mais efetiva os núcleos regionais;
D) Conduzir com igual importância a marcha batida, assim como a marcha picada, que fazem parte das características distintas e igualmente valiosas de nossa raça.